terça-feira, 10 de junho de 2008

Meu pai, meu tio e os Beatles.


Apesar do monte de besteiras que eu fiz na minha vida, digo isso no sentido musical, eu tenho que concordar que devo toda a minha musicalidade aos Beatles.

Quando comecei a estudar música nos anos 80, acabei sofrendo influência de músicos que na atualidade não me despertam o menor interesse. O auge da minha adolescência musical surgia entre o fim dos anos 80 e o começo dos anos 90. Enfim tudo se caracterizava por músicos extremamente técnicos e que faziam seus instrumentos parecerem carros de F1. Era disso que nos gostávamos naquela época.

Um pouco antes eu aprendera a gostar de muitas bandas de qualidade que fizeram sucesso entre as décadas de 60 e 70. Mas a modernidade sempre nos empurrava para o distanciamento do que na realidade era bom. Assim acabei por viver os anos 80 e 90 intensamente. Com o passar dos tempos à era musical que chamávamos de “Rock de Seatle”, pois as bandas de sucesso vinham de lá, acabaram por vencer a luta. E era isso o que restou no momento, bandas de sucesso como o Nirvana. Eu odiava tudo aquilo e confesso que o trauma foi tão grande que até hoje reluto em escutar coisas novas.

Tive sorte de encontrar amigos que tinham irmãos mais velhos. Era fato encontrar discos do Led, Queen, Yes, Rush, Floyd, Super Tramp entre outras coisas, no porta discos dos velhos aparelhos 3 em 1.

Quando penso no que sou musicalmente falando a primeira pessoa que me vêm no pensamento é o velho Alcides, meu pai. Foi ele quem me ensinou que o mundo, apesar de tudo, é um lugar magnífico. Ele me ensinou que não somos nada sem a natureza e que os maiores tesouros de nossas vidas são as pessoas. Afinal de contas ele é mais um caipira que acabou se tornando um paulista moderno. E é incrível, até mesmo um caipira é fã de Beatles. Não consigo me esquecer de lugares como a casa em que ele morou em Alfredo Guedes próximo a cidade de Bauru. Uma casa feita de barro dentro de um sítio onde o acesso é através de um canavial. Isso pra mim é fantástico e criou na minha cabeça a idéia firme de que a simplicidade e a humildade são as maiores virtudes do ser humano. Foi meu pai que me despertou o interesse por tocar guitarra. Era ele quem reunia algumas figuras lá em casa e passavam a noite tocando violão e cantando. Em pouco tempo lá estava eu comprando revistinhas de músicas na banca de jornais e tentando tocar e cantar. A partir disso acabei por descobrir a guitarra e todo o restante.

Em meio a isso tudo, surge outra pessoa que me despertava um grande interesse. O Milton, meu tio e irmão do Cidão. Miltão éra muito parecido comigo e explicava muitas coisas que correm por dentro das minhas veias. Meu pai dizia que quando estava saindo para trabalhar encontrava frequentemente o velho Milton chegando com uma guitarra nas costas. O Miltão era taxista quando eu ainda era adolescente e fazia ponto perto da casa de meus pais. Eu sempre passava por lá para trocar umas idéias com ele. Ele me dizia que chegou a fazer sucesso. Chegou até a tocar na televisão, pois tinha uma banda famosa naquele momento Beatlemaníaco. Não me lembro o nome da banda.

Naquele tempo todos eles eram fanáticos por Beatles. Aquele lance do ‘IE IE IE”, realmente mexia com eles. E quando o Miltão ia em casa era uma festa, ele passava horas com o violão na mão, tocando e cantando Beatles. E apesar de eu adorar isso, de certa forma me vangloriava por tocar tecnicamente melhor do que ele. O Miltão adorava me ver tocar e dizia que se ele tocasse como eu naquela época teria feito muito sucesso. Hoje eu discordo completamente disso. Ele viveu os melhores anos da sua vida e presenciou o surgimento dos Beatles e outra grandes bandas da época. Que momento maravilhoso. Aqueles caras fizeram música de verdade. Enfim, eu nunca dei muita bola aos Beatles, pois não me interessava escutar aquilo e eu também não entendia a importância musical daqueles 4 malucos. Mas o mundo gira e com o passar do tempo os conceitos mudam. Recentemente eu tomei coragem e fiz algo que já deveria ter feito há muito tempo. Comprei toda a coleção dos Beatles. Sim comprei. Estes caras merecem respeito. Merecem ter todos os seus discos guardados no meu porta CD’s. Eu espero que com isso no futuro meus filhos ou outro alguém possa descobrir do que estes 4 caras de Liverpool eram capazes de fazer. Que possam descobrir que os Beatles não eram simplesmente os Reis do "IE IE IE". Que descubram que eles eram músicos geniais que nunca, nem antes, nem depois, serão igualados.

Mr. Caio obrigado pela dica sobre a discografia dos Beatles. O Társio tempos atrás me perguntou qual é o disco deles que eu mais gostei. Ainda não escutei todos e apesar de muita gente gostar do Sgt. Pepper’s eu admiro demais o Let it Be. Acho este disco fantástico. Aquele dia no Mojo Churasco lá em casa eu fiquei muito contente em ver vocês, caras de uma geração tão distante, tocando Beatles e Rock com tanta propriedade. Sinal de que a música de verdade é eterna. Enfim o mundo gira. Meu pai, meu tio, eu, meus amigos e muita gente no planeta tem algo dos Beatles em suas vidas, mesmo que inconscientemente.





10 comentários:

Anônimo disse...

Como sempre um belissimo texto. Eu ainda me surpreendo com o tamanho respeito que você tem pela música. E o Let it Be é sim uma belíssima escolha como disco predileto dos Fab Four. E recomendo ainda que você procure o album "Let it Be... Naked" (sem os arranjos do Phil Spector). A crueza original deixa as musicas muito mais bonitas. No Let it Be, estão algumas das minhas músicas prediletas, como Dig a Pony, Two of Us & Across the universe. []'s. Társio

Crotti disse...

Vou procura pela indicação Társião.
É incrível como a gente demora pra perceber certas coisas que estão na nossa cara.
Obrigado pelo leitura e pelo comentário.

Abração

Eduardo Andrade disse...

Muito bom o texto, Crotti!! Eu confesso que não ouvi todos também, o que menos conheço é o White Album e o Magical Mistery Tour.. Mas tenho um carinho pelo Revolver.

Já notou que o Aerosmith faz uma passagem quase idêntica ao refrão de Dig a Pony?

Um abraço!

Crotti disse...

Pois é Edu....eu também gosto muito do Revolver. Alias conheço uma banda que faz uma versão fantástica de She Said She Said !!! Será que você conheçe ????
Não tinha sacado este lance com o Aerosmith não. Vou tentar encontrar.

Valeu pela leitura e por comentar.

Abração

Serbão disse...

Claudião, tu baixaste os cds covers que preparei dos Beatles e ous no meu blog?

ah, e uma dica é a homenagem do Yellow Matter Custard - tem varios videos deles. Mike Portnoy, Neal Morse, Greg Bissonette e Paul Gilbert fizeram uma noitada só tocando o Fab Four. tem varios videos no You Tube:
http://www.youtube.com/results?search_query=yellow+matter+custard&search_type=&aq=0&oq=yellow+matter+

Crotti disse...

Eu baixei sim Serbão...alias você fez um trabalho muito legal. Selecionando artistas que fizeram as músicas como cover e montando os discos dos Beatles.
Vou dar uma escutada nesta sua recomendação, mas não consigo imaginar estes caras tocando Beatles....rsrsrs

Valeu..abração

Anônimo disse...

Sensacional!

Beatles é Beatles. Não tem rótulo, não tem palavra, não tem estilo, não tem nada que possa definir o que eles fizeram.

99% do que eu (penso que) sei de música vem dali. O 1% restante é coisa de caipira... :-)

E concordo com o Társio, na minha opinião, o "Let it Be... Naked" é ainda melhor que o original. E o meu predileto acho que é o "Revolver". Ou o "Rubber Soul". Ou o "Help!". Ou não.

Abraço!

Crotti disse...

É verdade Caio...é muito difícil escolher um preferido. São todos fantásticos.

Valeu por comentar.

Abraço

Rogério disse...

Excelente texto...
Quando comecei a ler, me identifiquei na hora...a "veia guitarreira" às vezes nos impede de vivenciar a música propriamente...em alguns estágios de maturidade, achamos que se não houver um maluco fazendo a guita falar ou tirando frases irreproduzíveis, aquilo não é bom...é uma barreira que todos nós guitarristas temos que ultrapassar...alguns não conseguem e permanecem na "ignorância"...
Enfim...parabéns mesmo.
Abraço. Rogério.

Crotti disse...

Valeu Rogério. Com o passar dos tempos a gente começa sacar que a música está muito acima do virtuosismo. Essa transformação é algo muito legal de se viver.

Grande abraço